Francês que submetia esposa a estupros era 'bom pai e avô', diz sua advogada
Dominique Pelicot, que foi casado durante décadas com Gisèle, confessou que drogava a mulher para poder estuprá-la, além de convidar estranhos para participar dos atos. Promotoria pediu a pena máxima para ele. Protesto na porta do tribunal contra Dominique Pelicot na França
Christophe SIMON / AFP
A advogada de Dominique Pelicot, o homem julgado na França por ter submetido sua esposa, sob efeito de medicamentos, a estupros cometidos por ele próprio e outras dezenas de homens, alegou, nesta quarta-feira (27), que seu cliente também é um "bom pai e bom avô".
Por pouco mais de uma hora, a advogada Béatrice Zavarro tentou explicar as razões pelas quais seu cliente se tornou o "regente de orquestra" — nas suas palavras — dos abusos contra sua agora ex-esposa Gisèle, cometidos durante uma década na residência do casal.
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Durante sua intervenção perante o tribunal penal de Vaucluse, no sul da França, Zavarro, que iniciou sua fala expressando seu "profundo respeito" por Gisèle Pelicot, destacou a parte humana do "outro Dominique", o "bom pai e avô".
"Dominique Pelicot não é o pior inimigo de Dominique Pelicot?", perguntou, propondo à corte que se distanciasse "um pouco da petição mais forte da acusação".
Outras penas
Após pedir, na segunda-feira, a pena máxima de 20 anos para Pelicot, principal acusado e considerado o instigador dos fatos durante uma década, o promotor anunciou, nesta quarta, as penas que faltava solicitar.
O Ministério Público francês pediu penas de quatro a 20 anos de prisão contra os 51 acusados no julgamento.
A menor foi para Joseph C., de 69 anos, que só é acusado de agressão sexual, enquanto todas as demais oscilam entre dez e 18 anos de prisão.
A Promotoria pediu dez anos de prisão para onze acusados, 11 anos para dois, 12 anos para treze, 13 anos para seis, 14 anos para outros seis, 15 anos para três, 16 anos para quatro, 17 anos para três e 18 anos para o último, um dos quatro homens que foi seis vezes à residência do casal Pelicot para estuprar Gisèle.
Gisèle Pelicot comparece a audiência do julgamento, iniciado em setembro
Reuters
A advogada Béatrice Zavarro lembrou os traumas que Dominique Pelicot sofreu na infância, antes de cair na "perversidade", uma "engrenagem" que o levou a drogar, violentar e fazer estuprar sua esposa em sua casa no sul da França.
"Não se nasce pervertido, torna-se", afirmou, repetindo uma frase usada por seu cliente durante seu primeiro interrogatório ante o tribunal.
"Esta frase é dita pelo outro Dominique, pelo qual advogo hoje", disse a advogada. "Este outro Dominique é dotado de certa perversidade, mas antes disso há um homem", acrescentou, antes de lembrar do "ambiente familiar nocivo" onde cresceu, como um pai "autoritário, tirânico".
A advogada também citou as duas agressões sexuais que Dominique Pelicot diz ter sofrido na juventude: quando um enfermeiro o violentou durante uma internação hospitalar ainda criança e quando ele foi forçado a participar do estupro de uma jovem.
As petições de pena do Ministério Público são significativamente mais severas que a média de condenações por estupro na França, que foi de 11,1 anos em 2022, segundo o Ministério da Justiça.
Quando expuseram seus argumentos finais na segunda-feira, os dois representantes da Promotoria advertiram que "a ausência de consentimento [de Gisèle Pelicot] não podia ser ignorada pelos acusados".
A vítima, atualmente com 71 anos, esteve presente nas audiências de pedidos de sentenças, assim como fez ao longo de todo o julgamento, buscando sensibilizar a sociedade sobre os estupros mediante submissão química.
O julgamento ganhou repercussão mundial pelo número de estupros, mas também pelo perfil dos acusados, com idades entre 26 e 74 anos, e ocupações que abrangem um amplo leque de atividades, incluindo bombeiro e jornalista.
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