Chanceler critica proposta de Trump de retirar palestinos de Gaza e defende saída 'completa' de tropas israelenses
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Mauro Vieira deu declarações em encontro do G20. Ministro também disse que só haverá paz entre Rússia e Ucrânia se todas as partes forem ouvidas em negociações. Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores
GloboNews/Reprodução
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou nesta quinta-feira (20) a recente proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar os palestinos da Faixa de Gaza, acrescentando entender que, para o Brasil, são as tropas israelenses que devem deixar a região.
Mauro Vieira deu as declarações ao discursar na 1ª Reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20, grupo que reúne as principais economias do mundo, em Joanesburgo (África do Sul).
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A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, começou em outubro de 2023. Desde então, segundo o governo brasileiro, mais de 47 mil palestinos e 1,2 mil israelenses morreram em razão dos conflitos, incluindo civis inocentes, mulheres e crianças.
"O Brasil faz um apelo a todas as partes para garantirem a implementação rigorosa do acordo de cessar-fogo e espera que dele resulte a retirada completa das forças israelenses de Gaza, a libertação de todos os reféns e o acesso irrestrito de ajuda humanitária à Faixa", declarou Mauro Vieira.
"A defesa da solução de dois estados é ainda mais importante neste momento. Nesse sentido, a ideia proposta recentemente de se expulsar toda a população de Gaza, em desrespeito aos princípios mais fundamentais do direito internacional, é um desdobramento aterrador", acrescentou o chanceler, citando declaração do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, segundo a qual "é essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica".
Diante do que tem acontecido na região, o Brasil passou a questionar publicamente os limites éticos e legais das ações militares promovidas pelo governo de Benjamin Netanyahu.
Tais críticas, a exemplo da que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez ao comparar o que acontece em Gaza ao que o regime nazista de Adolf Hitler fez contra os judeus, levou a uma crise diplomática entre os dois países, que diplomatas dizem avaliar que pode ser superada.
Guerra entre Rússia e Ucrânia
Mauro Vieira também dedicou parte do discurso desta quinta à guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura três anos. Conforme avaliação do ministro, nesse período, a comunidade internacional observou uma "escalada na crise humanitária e na corrida armamentista".
Sem citar o governo de Donald Trump, Mauro Vieira disse que a paz entre os dois países só será alcançada se todas as partes forem ouvidas nas negociações.
Recentemente, autoridades americanas discutiram um acordo de paz com autoridades russas, deixando ucranianos de fora, o que gerou críticas de Kiev.
"Desde o início, o Brasil enfatizou a necessidade de diálogo e de uma solução negociada. [...] O Brasil apela pelo fim do conflito e acredita que uma paz duradoura só pode ser alcançada por meio da diplomacia. O Brasil também reconhece a necessidade de reiterar que qualquer solução viável para essa guerra deve surgir de um processo de paz que inclua ambos os lados do conflito na mesa de negociações", afirmou o chanceler.
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