Vender ou 'segurar' a soja? Especialista aponta qual a melhor decisão neste momento

Diante das incertezas no cenário atual da soja, produtores da commodity enfrentam um dilema: vender agora ou aguardar um momento mais favorável no mercado? A resposta, no entanto, exige cautela e análise de diversos fatores, desde o custo de armazenagem até alternativas como o barter (troca de grãos por insumos).
Para o consultor Vlamir Brandalizze, engenheiro agrônomo formado pela UFPR e um dos maiores especialistas em mercados agrícolas do Brasil, o momento exige atenção redobrada. “Se o produtor estiver com o caixa em dia, pode ser vantajoso segurar a venda até setembro ou outubro, quando a demanda tende a aumentar. No entanto, é fundamental acompanhar de perto a movimentação dos insumos, que também podem se valorizar”, orienta o especialista, que também atua como analista de commodities e palestrante do setor agro.
Apesar da possibilidade de valorização da soja nos próximos meses, Brandalizze ressalta que não se espera uma alta expressiva. “A expectativa é de aumento entre R$ 4 e R$ 8 por saca no segundo semestre. Isso não é suficiente, por si só, para justificar o custo de armazenar o grão por muito tempo”, alerta.
China, EUA e os reflexos no mercado da soja
Outro fator decisivo no comportamento do mercado é a atuação da China, principal compradora da soja brasileira. Segundo Brandalizze, os negócios com os chineses têm fluido bem desde o início do ano, sustentando prêmios positivos.
No entanto, ele faz um alerta: um eventual acordo comercial entre China e Estados Unidos pode mudar esse panorama. “Se houver um acordo, os chineses podem ser obrigados a comprar mais soja americana, reduzindo a demanda pela brasileira e pressionando os preços”, explica. Isso tornaria o cenário mais competitivo e exigiria rápida adaptação por parte dos produtores brasileiros.
Vale a pena armazenar a soja?
O custo de carregamento é outro ponto apontado. Em um contexto de juros elevados, a armazenagem pode pesar no bolso do produtor. “Hoje, a taxa real de juros pode ultrapassar os 20% ao ano. Somando o custo de armazenagem, esse valor pode chegar a 30%. Para quem segura o grão por seis meses, o custo chega a 15%. Ou seja, a soja teria que se valorizar 15% nesse período só para empatar o custo”, explica o consultor.
Diante disso, Brandalizze considera que, para a maioria dos produtores, não vale a pena manter estoques por longos períodos. A alternativa mais viável tem sido o barter — troca da produção por insumos da próxima safra. “Essa estratégia pode garantir uma rentabilidade melhor do que simplesmente segurar a soja esperando por uma alta que pode não compensar”, afirma.
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