Seja bem-vindo
Sorriso,29/04/2025

  • A +
  • A -

'Hitler estava destruído, seu rosto era uma máscara de medo e confusão': como foram os últimos dias do líder nazista há 80 anos

g1.globo.com
'Hitler estava destruído, seu rosto era uma máscara de medo e confusão': como foram os últimos dias do líder nazista há 80 anos


Documentos e depoimentos daqueles que acompanharam o líder nazista no bunker afirmam que ele oscilava entre a raiva e a depressão, mas nunca pensou em fugir. 'O clima era deprimente, porque todos sabiam que a guerra estava perdida'.
Getty Images via BBC
"Do quartel-general, foi informado que nosso Führer, Adolf Hitler, lutando até seu último suspiro contra o bolchevismo, morreu pela Alemanha nesta tarde".
Por volta das 22h30 de 1º de maio de 1945, a Rádio Hamburgo interrompeu as notas da Sétima Sinfonia de Anton Bruckner para transmitir esta mensagem.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
A notícia da morte do homem que "havia se tornado, aos olhos de praticamente todo o mundo, a personificação do mal absoluto", segundo o jornal londrino The Times, se espalhou rapidamente ao redor do globo.
"Interrompemos nossa programação para dar uma notícia: a rádio alemã acaba de anunciar a morte de Hitler. Vou repetir: a rádio alemã acaba de anunciar que Hitler morreu", transmitiu a BBC minutos depois.
Com o tempo, descobriu-se que a versão nazista não era verdadeira, e que o responsável pela eclosão da Segunda Guerra Mundial não morreu em 1º de maio —mas, sim, no dia anterior. E ele tampouco foi morto em combate como um bravo líder militar, mas se suicidou com um tiro em seu bunker.
Oito décadas depois, mitos ainda cercam as circunstâncias da morte do homem que é considerado o mentor do assassinato de 6 milhões de judeus europeus.
Com a ajuda de documentos históricos e três especialistas, a BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, fez uma reconstituição dos últimos dias do ditador que queria construir um império que duraria mil anos.
Em retirada permanente
Vários metros abaixo da enorme residência oficial que mandou construir em Berlim, ficava o bunker onde Hitler passou seus últimos dias.
Getty Images via BBC
Em 1944, o destino da Alemanha nazista estava selado. A invasão da Normandia (França), a oeste, pelas tropas dos países Aliados; a libertação de Roma (Itália), ao sul; e o avanço soviético a leste indicavam que a derrota era apenas uma questão de tempo.
Mas Hitler não estava disposto a se render.
"Em 21 de novembro de 1944, ele deixou Wolfsschanze (a "Toca do Lobo", na atual Polônia), e pegou o trem para o oeste até sua base de Adlerhorst (perto da fronteira com a Bélgica e Luxemburgo), de onde liderou a ofensiva nas Ardenas", diz o historiador alemão Harald Sandner à BBC News Mundo.
Após o fracasso da operação, considerada pelos historiadores como a última grande jogada militar dos nazistas, Hitler retornou a Berlim em 16 de janeiro de 1945. Isso foi confirmado com precisão cirúrgica por Sandner, que passou duas décadas pesquisando o assunto para o livro Hitler — Das Itinerar ("Hitler — o Itinerário", em tradução livre), considerado a cronologia mais completa das viagens do ditador alemão ao longo da vida.
"Exceto por uma visita à linha de frente de combate em 3 de março, Hitler não deixou a capital até sua morte", observou.
No entanto, à medida que os bombardeios dos Aliados em Berlim se tornaram mais frequentes, Hitler começou a passar mais tempo no bunker sob a Chancelaria, a enorme e opulenta residência que ele mesmo havia mandado construir na capital uma década antes.
"A partir de 24 de janeiro, ele dormiu sempre no bunker", acrescenta Sandner.
Em seus últimos dias, Hitler era a sombra do líder messiânico que conseguiu atrair a maioria de seus compatriotas, segundo aqueles que o acompanharam até o fim.
Getty Images via BBC
No início de abril, o líder nazista quase não aparecia mais na superfície, pois nesta época as tropas soviéticas, que estavam a dezenas de quilômetros a leste da cidade, iniciaram um forte ataque de artilharia, afirma o historiador britânico Thomas Weber à BBC News Mundo.
"Hitler passou quase toda sua última semana de vida no bunker, saindo apenas em 20 de abril, dia do seu aniversário, para receber convidados na Chancelaria, e depois no dia 23, quando deu uma breve caminhada no jardim e tirou suas últimas fotos", acrescenta Weber, que é professor da Universidade de Aberdeen, na Escócia, e pesquisador da Universidade de Stanford, nos EUA.
Vários documentos e pesquisas confirmam que, além do líder nazista, seu círculo mais próximo também estava no abrigo subterrâneo.
Sua mulher, Eva Braun; o secretário do partido, Martin Bormann; o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels e sua família; alguns conselheiros militares, suas secretárias e guarda-costas faziam parte deste grupo.
De acordo com relatos de testemunhas, o bunker de Hitler era escassamente mobiliado e decorado. No escritório do ditador, havia um retrato do rei Frederico, 'o Grande', da Prússia, a quem ele admirava.
Getty Images via BBC
Uma tumba fria e superlotada
O Führerbunker, como a instalação secreta era conhecida, era uma estrutura enorme com 30 cômodos que ficavam vários metros abaixo da residência oficial de Hitler. Diferentemente da Chancelaria, era escassamente mobiliado, e não tinha decoração.
Suas paredes e teto, com quatro metros de espessura, o tornavam resistente às bombas dos Aliados, enquanto o moderno sistema de ventilação e geração de energia garantia que fosse habitável.
Mas não era tão confortável. "As descrições que temos nos dizem que era um espaço confinado, frio, úmido, barulhento e malcheiroso, devido aos geradores que mantinham as luzes acesas e o ar circulando", explica a historiadora britânica Caroline Sharples à BBC News Mundo.
"As pessoas que estiveram lá disseram que tinha uma sensação de claustrofobia, por estarem amontoadas. Além disso, não tinham noção do tempo, porque a luz artificial ficava acesa o tempo todo", acrescenta Sharples, que é professora da Universidade de Roehampton, no Reino Unido.
Além destes inconvenientes, as notícias que vinham da linha de frente de combate não eram boas.
"O clima era deprimente porque todos sabiam que a guerra estava perdida", acrescenta Sandner.
Mas a rotina de Hitler quase não foi alterada.
"Ele dormia até muito tarde, até depois do meio-dia. Participava de briefings com seus generais duas vezes por dia. Depois, tomava chá e fazia monólogos para suas secretárias até de madrugada", diz Sandner.
No fim da vida, Hitler sentiu que havia sido traído por seus colaboradores mais próximos.
Getty Images via BBC
Entre contra-ataques e complôs
No dia seguinte ao seu aniversário de 56 anos, em 21 de abril, Hitler ordenou que três generais lançassem um contra-ataque para romper o cerco soviético à capital alemã.
Mas ninguém se atreveu a dizer a ele que as divisões que ele via no mapa eram, na verdade, punhados de homens sem tanques nem artilharia.
Um dia depois, ao saber que soldados do Exército Vermelho haviam entrado na cidade, e que o contra-ataque que ordenou não havia sido bem-sucedido, o ditador repreendeu seus generais e admitiu, pela primeira vez em voz alta, que a guerra estava perdida.
"Não posso continuar. Meu sucessor vai assumir", ele teria dito. Este momento foi recriado no filme alemão A Queda! As Últimas Horas de Hitler "com bastante precisão", afirma Sandner.
Apesar de ter admitido isso, Hitler ignorou a sugestão do arquiteto Albert Speer, ministro do Armamento, que visitou o bunker no dia 23, e o incentivou a fugir para os Alpes.
Este boneco de cera recria o que as evidências históricas sugerem: que em seus últimos dias Hitler estava dissociado da realidade.
Getty Images via BBC
A suposta renúncia do líder nazista chegou aos ouvidos do marechal Hermann Goering, chefe da Luftwaffe (Força Aérea nazista), a quem ele havia designado como sucessor no passado, em decretos datados de 1939 e 1941.
Goering, que estava refugiado na Baviera, enviou um telegrama a Hitler pedindo permissão para substituí-lo, o que foi visto por Hitler como uma traição.
"Hitler ficou furioso e ordenou que Goering renunciasse a todos os seus cargos e propriedades ou seria executado por traição", diz Sharples.
Mas esta não foi a única traição. No dia 28, Hitler foi informado de que Heinrich Himmler, líder da temida SS, havia conversado com diplomatas suecos, pedindo a eles para facilitar as negociações com os americanos e britânicos.
"Todos mentiram para mim, todos me enganaram, ninguém me disse a verdade. As Forças Armadas mentiram para mim, e agora a SS me abandonou", teria dito o ditador, segundo um relatório de Guy Liddell, ex-chefe da divisão de contraespionagem britânica durante a Segunda Guerra Mundial.
A aviadora Hanna Reitsch conseguiu romper o cerco soviético e pousar um avião perto da Chancelaria, mas Hitler se recusou a fugir.
Getty Images via BBC
A última chance
Enquanto as tropas russas avançavam em direção ao distrito governamental, Hitler anunciou aos mais próximos que não deixaria a cidade e que tiraria a própria vida.
No entanto, quase até o último momento, ele teve uma chance de escapar. Entre 26 e 27 de abril, a aviadora nazista Hanna Reitsch realizou o feito de pousar um avião perto da Chancelaria.
"Ele poderia ter fugido no avião com Reitsch, ou até antes, mas não fez isso deliberadamente porque acreditava que, como chefe de Estado, deveria lutar o máximo possível na capital. Nunca se importou com a própria vida", diz Sandner.
A notícia de que seu aliado, o ditador italiano Benito Mussolini, e sua amante, Clara Petacci, foram assassinados por partisans em 28 de abril, e seus corpos pendurados de cabeça para baixo em uma praça em Milão, reforçou a determinação do líder nazista, cujo estado mental e físico estava em declínio acentuado.
"Sabemos que, à medida que a situação militar se deteriorava, Hitler ficava cada vez mais desanimado", afirma Sharples, citando o depoimento do guarda-costas do ditador, Johann Rattenhuber.
"Hitler estava literalmente destruído. Seu rosto era uma máscara de medo e confusão, com o olhar vazio de um maníaco e uma voz quase inaudível", declarou o ex-agente.
Os especialistas consultados atribuem a deterioração física e mental do ditador não apenas aos contratempos no campo de batalha, mas também aos coquetéis de drogas que tomou durante anos e ao fato de sofrer de Parkinson.
Os restos mortais de Hitler e sua esposa, Eva Braun, foram encontrados pelos soviéticos em maio de 1945, mas eles não informaram isso aos aliados ocidentais.
Getty Images via BBC
Em outro gesto inesperado, no dia 29, o ditador se casou com Braun — mas, em vez de comemorar, começou a se despedir dos que estavam no bunker e, em seguida, ditou seu testamento político para sua secretária, Gertrud Junge.
Segundo Weber, "no final ele oscilava entre a ideia de que a guerra estava perdida, mas que ainda havia uma possível solução mágica".
"Hitler acreditava que as tropas britânicas e americanas não teriam coragem de travar uma guerra urbana usando táticas de insurgência, que seriam lideradas por combatentes nazistas altamente fanáticos", acrescenta o historiador.
Mas isso não aconteceu.
"O povo alemão não lutou heroicamente e, portanto, merece perecer. Não fui eu quem perdeu a guerra, mas o povo alemão", teria declarado o ditador, segundo a investigação de Liddell.
Pouco se sabe sobre o bunker de Hitler: acredita-se que os soviéticos o cobriram completamente para evitar que se tornasse um santuário para os nazistas.
Getty Images via BBC
A origem das especulações
Mas Hitler não só decidiu tirar a própria vida, como ordenou que seus restos mortais fossem destruídos.
"Minha esposa e eu escolhemos a morte para evitar a vergonha da destituição ou da capitulação. Nossos corpos devem ser queimados imediatamente", diz seu testamento.
Por volta das 15h30, em 30 de abril, o ditador e Braun entraram em um cômodo. Ela tomou uma cápsula de cianeto, e ele se matou com um tiro na cabeça.
Minutos depois, seus guarda-costas entraram no cômodo, e retiraram os dois corpos cobertos, que carregaram até o jardim e jogaram num buraco que haviam cavado. Em seguida, encharcaram os corpos com combustível e jogaram um fósforo para queimá-los, como era o desejo do seu líder.
"Hitler estava muito preocupado com o que aconteceria se os russos o capturassem vivo ou encontrassem seu corpo. Ele temia ser exposto em Moscou", acrescenta Weber.
Hitler passou anos construindo uma imagem de 'messias todo-poderoso' — e queria que esta imagem sobrevivesse.
Getty Images via BBC
Mas o especialista também acredita que há outras razões que explicam as decisões do líder nazista.
"Desde o início da década de 1920, Hitler havia criado uma persona pública, uma versão fictícia de si mesmo que era quase um messias todo-poderoso, e ele queria que isso sobrevivesse", explica.
O ditador atingiu parcialmente seu objetivo, uma vez que, apesar das abundantes evidências históricas da sua morte, durante décadas circularam versões afirmando que ele sobreviveu e conseguiu fugir para a América do Sul.
Estas teorias da conspiração foram promovidas pelos soviéticos. "(Joseph) Stalin jogou com os aliados ocidentais, semeando dúvidas sobre a morte de Hitler, embora os russos tivessem seu corpo desde maio de 1945", acrescenta Sandner.
Para Weber, as teorias que afirmam que Hitler escapou com vida do bunker vão contra a personalidade megalomaníaca do líder nazista.
"Do ponto de vista de Hitler, não havia sentido em viver mais um dia fora do poder e em isolamento", destaca o historiador.
"Hitler precisava do apreço não apenas do público, mas também daqueles que o cercavam. Ele era um homem que ansiava por contato social e reconhecimento. É inimaginável que uma pessoa assim quisesse viver escondida na zona rural da Argentina."
Com medo de ser capturado e exibido como troféu, Hitler se suicidou e mandou destruir seu corpo.
Getty Images via BBC




COMENTÁRIOS

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.